Tratamentos

Abortos de repetição

Embora 25% de todas as gestações evoluam para abortamento, somente 5% das mulheres terão dois abortos, e somente 1% sofrerão três ou mais perdas gestacionais.

Casais que possuem abortamentos recorrentes (mais der dois abortos segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva) devem ser submetidos a uma investigação detalhada por um especialista.

Dentre os fatores que podem causar perdas gestacionais de repetição destacam-se:

Alterações cromossômicas

Aproximadamente 60% de todos os abortos são causados por alterações cromossômicas, que podem acontecer ao acaso, por erros na divisão celular, ou herdadas dos pais.
Para investigação deste fator, solicita-se um cariótipo dos pais (para avaliar se há quebras, trocas ou apagamentos de parte dos cromossomos) e o cariótipo do material do abortamento (para avaliar os cromossomos do feto que não evoluiu).

O material para análise é obtido normalmente por meio de aspiração intrauterina (AMIU) ou curetagem propriamente dita. A análise pode ser feita através do cariótipo fetal (análise dos cromossomos) obtido por cultura celular dos restos embrionários ou por estudo direto dos restos fetais, sem a necessidade de cultivo com Next-Generation Sequencing (NGS).

A taxa de fracasso (não crescimento) no cultivo celular para obtenção do cariótipo fetal é de até 42% devido à deterioração do tecido em cultura , de modo que, nestes casos, não é possível obter resultados. Por esta razão, nos últimos anos, as técnicas de biologia molecular desenvolvidas permitem realizar uma extração direta de DNA a partir de tecido sem cultivar, e a partir deste DNA, podemos analisar os cromossomos deste tecido, além de descartar possível contaminação do sangue materno nos casos que o resultado é de um feto feminino normal.

Idade

A chance de abortos aumenta com a idade da mulher devido à diminuição da qualidade dos óvulos e, consequentemente, menor eficiência da divisão celular.
Aproximadamente 1/3 de todas as gestações em mulheres com mais de 40 anos terminam em abortamentos.
Uma forma de se evitar estas perdas é o estudo pré-implantacional do embrião através de sua biópsia antes de colocá-lo no útero. Esta técnica somente é possível pelo tratamento de Fertilização “in vitro”.

Trombofilia

Condição em que a mulher possui fatores que predispõem a ocorrência de trombose (formação de coágulos). A identificação destes fatores é realizada através de exames de sangue (mutação fator V de Leiden, Mutação pró-trombina, antitrombina III, homocisteína, proteína s livre, proteína C funcional).
A paciente portadora desta condição pode se beneficiar com o uso de aspirina e anticoagulantes.

Síndrome do Anticorpo antifosfolípede

É caracterizada pela presença de anticorpos específicos (anticorpo anticardiolipina, anticoagulante lupico e beta2 glicoproteína) , que junto com algumas características clinicas , fazem o diagnostico desta síndrome, que pode causar perdas gestacionais de repetição, além de complicações durante a gravidez como: restrição do crescimento do bebê e trabalho de parto prematuro.
Pacientes portadoras da síndrome do anticorpo antifosfolípede se beneficiam do uso de aspirina e anticoagulantes durante a gestação.

Alterações do útero

Malformações uterinas, pólipos, miomas e sinéquias podem ser estar relacionados a abortos de repetição. A avaliação uterina minuciosa faz-se sempre necessária nestes casos. Os exames habitualmente solicitados são: histerossonografia ou histeroscopia e ultrassom tridimensional ou ressonância magnética da pelve.

Fator masculino

Alguns estudos demonstram que a maior fragmentação do DNA do espermatozoide pode estar relacionada a abortos de repetição, no entanto, mais estudos são necessários para confirmar este achado.
A fragmentação do DNA espermático é avaliada no sêmen que deve ser colhido como na avaliação do espermograma, ou seja, por masturbação.

Abortos inexplicáveis

Infelizmente nenhuma explicação é encontrada em aproximadamente 50 a 75% dos abortamentos recorrentes. Nestes casos, vale ressaltar os inúmeros estudos que vêm sido realizados para beneficiar os pacientes que apresentam este quadro.

Dentre as pesquisas realizadas, destacam-se as do campo imunológico, principalmente no que se refere as células NK uterinas e periféricas que são linfócitos (tipo de célula branca) com receptor CD56 presentes. Seu aumento, tanto no sangue como no útero, tem sido relacionado à falha de implantação e aborto de repetição. Quando aumentados, como tratamento, podem ser utilizados corticosteroides (como prednisona) e Intralipidio ou Imunoglobulina, entretanto, há de se esclarecer os pacientes de que estes tratamentos são controversos e ainda não há consenso na literatura se realmente reduzem as taxas de abortamento de repetição.